RELAÇÃO ENTRE PERFIL HEMATOLÓGICO E AS COMORBIDADES EM PACIENTES ASSINTOMÁTICOS E SINTOMÁTICOS LEVES COM COVID-19 EM SERGIPE

OBJETIVOS: Um surto de pneumonia iniciou-se no final do ano de 2019, na China. O vírus causador da infecção foi identificado como um SARS-CoV-2 e a doença foi nomeada como COVID-19. Pacientes que progrediram para óbito o perfil hematológico da COVID-19 apresentavam menores índices de hemoglobina, eritrócitos e hematócrito, assim como leucocitose, linfopenia, neutrofilia e basofilia, indicadores de resposta inflamatória exacerbada. Além disso, também foi descrita a presença de trombocitopenia. Este trabalho teve como objetivo investigar a relação entre o perfil hematológico e as comorbidades preexistentes em indivíduos acometidos pela COVID-19 assintomática ou sintomática leve. MATERIAL E MÉTODOS: Foram selecionados indivíduos participantes do projeto de avaliação da soroprevalência do SARS-CoV-2 em Sergipe – EPISERGIPE, no qual todos os indivíduos responderam a um questionário semiestruturado. Após triagem positiva no teste rápido (Wondfo-IgG/IgM), foram coletadas amostras de sangue periférico para realização do hemograma e análise sorológica de anti-SARS-CoV-2 IgG e IgM por Imunoensaio Fluorescente (FIA) utilizando o kit comercial IchromaTM COVID-19 Ab. RESULTADOS: Foram analisadas amostras de 1009 participantes, dos quais 817 (81,0%) apresentaram resultados positivos e 192 (19,0%) apresentaram resultados negativos para o anti-SARS-CoV-2. Do total de indivíduos, 685 eram do sexo feminino e 324 do sexo masculino, com idade média foi de 52,5 anos. Em relação às comorbidades, 460 não relataram a presença, e 328 descreveram uma ou mais comorbidades preexistentes, sendo as mais comuns: hipertensão 215 (65,5%), diabetes 95 (29,0%) e sobrepeso 56 (17,0%). Dos 817 indivíduos que apresentaram resultados positivos, 385 (47,1%) foram assintomáticos e 433 (52,9%) sintomáticos. Dentre os sintomáticos, os sintomas mais citados foram cefaleia 229 (52,8%), tosse 198 (45,7%), perda de paladar/olfato 180 (41,6%), rinorreia 180 (41,6%) e febre 141 (32,6%). Nos 817 indivíduos com resultados positivos, a anemia foi a alteração hematológica mais frequente, 189 (23,1%) casos, destes 102 (12,5%) sintomáticos e 87 (10,6%) assintomáticos. A segunda alteração mais frequente foi leucopenia com 89 casos (38 assintomáticos e 51 sintomáticos), seguida por leucocitose 63 (31 assintomáticos e 32 sintomáticos). DISCUSSÃO: Neste estudo a anemia foi o parâmetro hematológico mais frequente nos participantes positivos para COVID-19, sintomáticos e assintomáticos, diferentemente de outros estudos em que a anemia é encontrada em estágios graves da doença, nos quais a redução da hemoglobina pode ser explicada pela diminuição da eritropoese e hemólise, em consequência dos fatores inflamatórios desencadeados pela COVID-19. Neste estudo pode-se hipotetizar ainda a pré-existência de anemia nestes pacientes antes da pandemia. A leucopenia foi a segunda alteração mais encontrada, e em outros estudos realizados com pacientes internados, esta é a alteração mais frequente, sendo um possível marcador de gravidade da doença. CONCLUSÃO: A partir dos resultados prévios encontrados, observa-se alterações no perfil eritrocitário e leucocitário em indivíduos assintomáticos e sintomáticos leves com COVID-19, diferentemente de outros relatos da literatura, nos quais as alterações eritrocitárias foram evidentes em casos graves da doença.